quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Eu, Fisioterapeuta

Estou no Núcleo e é impressionante como o ar daqui me faz bem. Deveria me mudar para o sótão.

Só de saber que viria, já dormi melhor, acordei cedo e a vontade era tão grande que me fez confundir o horário - cheguei uma hora mias cedo do que deveria.

Meu ciclo de trabalho está se completando. Quando penso no tempo da faculdade, vejo que fui coerente comigo e com a vida que sonhava naquela época.

Adorava ortopedia, sempre gostei de correção postural, apesar do pouco resultado que conseguíamos na época. E tinha algumas certezas: evitar a qualquer preço trabalhar nos finais de semana e nunca deixar de tirar férias anuais.

Desde quando estudante ou trabalhando na ABBR, amava o que fazia. Meus clientes tinham grandes lesões -paraplégicos e tetraplégicos. Era um esforço enorme - por vezes eu tinha muita fé, às vezes quase certeza que um ou outro voltaria a andar. Ninguém conseguiu, apenas um criador de ovelhas de Pernambuco, que deu alguns passos, ficou na maior felicidade que alguém poderia ter – às custas de uma grande espasticidade – e que voltou para seu estado não andando, mas com o gostinho de ter conseguido dar três passos e a esperança de mais.

Até hoje tenho uma fotografia que ele me mandou de suas ovelhas. Lindas!

Até hoje tenho uma fotografia que ele me mandou de suas ovelhas. Lindas!

Outro cliente internado na ABBR era conhecido pelo apelido, Beleza, e como a maioria internada, era bem humilde. Um belo dia, chegou para o atendimento todo feliz, dizendo que havia ganho um tratamento nos EUA, na clínica Mayo, Flórida, EUA, referência em fisioterapia e o sonho de todos os clientes.

O problema, dizia ele, é que não poderia viajar sozinho e que necessitaria de um profissional para acompanhá-lo. Eu poderia? Lógico! O negócio era urgente e em duas semanas seria nosso embarque.

Sem falar inglês, sem passaporte e funcionária contratada do hospital, lá ia eu!

Acabei seu atendimento e fui direto para a sala do diretor da ABBR, um senhor muito gentil – não me lembro o nome dele agora – pedindo que me dispensasse porque eu iria viajar, que não poderia perder tempo e lhe contei o caso na maior excitação! Mal conseguia me explicar, tamanha euforia!

Ele ouviu atentamente (hoje entendo seu olhar de adulto experiente pensando - “Senhor, ela não sabe o que diz...”), fez várias perguntas pertinentes às quais eu não soube responder a nenhuma. Concluiu me aconselhando a continuar a trabalhar, que aguardasse os acontecimentos e que SE alguma coisa se concretizasse, ele me deixaria partir imediatamente. Mas nada de pedir as contas naquele instante. E que voltasse ao trabalho.

Ficamos as duas semanas seguintes na maior expectativa, fazíamos planos, o dia do embarque chegando, e nada. Nem o Beleza nem eu fomos a lugar algum. Mantive meu emprego na ABBR e ele continuou anos por lá.

Em 1980 conheci a Antiginástica de Thérèse Bertherat através de seu livro “O corpo tem suas razões” e me apaixonei pelo método. Excluindo a parte psicológica comecei a aplicar com os clientes os exercícios que ela propunha. Foi um sucesso! Nunca havia conseguido resultados tão rápidos e visíveis!

Na época era sócia de minhas amigas Lúcia, Alcione a Celinha, em Copacabana. Era um tempo em que a Terapia Reichiana se tornava mais difundida no Brasil e outros métodos e técnicas novas chegavam a cada dia.

Como morava na Tijuca e já detestava engarrafamento (que saudades daquele trânsito de então...), resolvi sublocar um espaço e montei um grupo perto de casa. Em três meses estava com três turmas cheias e decidi partir para um local onde pudesse me expandir.

Aluguei a sala da rua Soriano de Souza, minha mãe virou secretária, ficou por 10 anos e assim começou a clínica. Foi um sucesso imediato, porque não havia quem fizesse esse trabalho na Tijuca, nada de concorrência, só na zona sul, como várias amigas que fizeram parte deste grupo pioneiro.

Eu gostava tanto de trabalhar com grupos, mas tanto, que por um bom tempo minha análise tratou da culpa que sentia por me divertir muito, rir demais, fazer vários amigos e ainda por cima ganhar dinheiro com aquilo!

Houve uma época em que não conseguia dar conta da demanda – chegou a haver uma fila de espera de mais de 200 nomes.

Pela enorme procura fui convidando algumas pessoas para trabalharem comigo e esse foi o início do que é hoje o Núcleo. Valéria e eu estamos juntas há 26 anos, Cristina há 23, Rachel e Flávia há 12 e assim foi. Na equipe de hoje somos 10 fisioterapeutas, uma administradora e quatro funcionárias.

Fui fiel aos meus sonhos. Trabalhei sempre com ortopedia e correção postural, nunca trabalhei em fins de semana, jamais deixei de tirar férias e continuo a me divertir muito!

3 comentários:

  1. Inspiração para todas nós! Bom demais fazer parte da sua equipe!beijos Rachel Lima

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  2. Faz jus a "música tema" desse blog : " Viver...e não ter a vergonha de ser feliz..."

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