Acabo de
entrar em casa e vim no taxi com uma sensação de prazer e felicidade tão
grandes, que me remeteram a uma época onde eu sentia isso todos os dias! A
sensação era a mesma!
Passei o sábado
todo na minha segunda aula de AutoCad. Semana passada começou o curso – anotei
tudo, penei para acompanhar o professor, mas achei que chegando em casa
conseguiria, com calma, fazer todos os desenhos aprendidos. Que nada!
Terça-feira,
depois de um almoço delicioso no Rio-Sul com a Lucy, que me acompanhou à
consulta de rotina com o Mauro Zukin, me agarrei ao computador, mas não
consegui fazer uma linha, um retângulo nem mesmo um círculo – o be-a-bá do
Autocad.
Tentei
dois dias seguidos e resolvi pedir um help
ao meu professor. Liguei para o curso e ele topou me dar uma aula particular –
e veio direto. Passamos duas horas aqui, mas aprendi. Pelo menos consegui
reproduzir a primeira lição.
Eu adoro
aprender! E como o assunto sai da minha rotina dos últimos 40 anos, a vida na
Fisioterapia, parece que há estímulos em áreas diferentes – devo fazer novas
sinapses, meu cérebro trabalha diferente e talvez isso traga a sensação
maravilhosa de ver além, conhecer o desconhecido, ter que pensar, já não é nada
automático.
***
Dormi
muito mal essa noite. Como ontem foi dia de quimioterapia e tomo uns remédios
que me deixam pilhada, como já contei, à noite não me desligo, fico horas
acordada e pensando em coisas que no dia seguinte não terão a menor
importância, mas que de madrugada tornam-se um vulto difícil de domar.
Sei que
até segunda de manhã ficarei acesa, mas que depois apago por uns dias – antes do
final da semana que vem volto a arribar.
Além
dessa noite agitada, acordei com uma diarreia daquelas e fiquei até receosa de
sair, mas não perderia minha aulinha de jeito algum! Resolvi arriscar. Deu
certo, só teve um episódio de corrida ao banheiro, mas deu para administrar e
não passar vergonha.
Pensei
que não fosse aguentar o dia todo, mas o tempo voou e quando a aula acabou nem
queria ir embora – fui porque todo mundo se levantou e não tenho intimidade
para pedir para fechar o curso, mas adoraria ser a última a sair e apagar a
luz!
No taxi,
me vieram essas lembranças de sensações deliciosas. Houve uma época em que
fazia atividades “extracurriculares” todos os dias. Tinha terapia num dia, duas
aulas de dança em outros, um baile na Estudantina às quintas-feiras, o qual não
perdia nem com temporal, tsunami ou dor de barriga. Aos domingos, frequentava
dois bailes: à tarde no Clube Internacional, ao lado do aeroporto Santos
Dumont, e depois de lanchar, escovar os dentes e renovar o desodorante, ia
direto para o Circo Voador. Dançava com a Orquestra Tabajara da primeira à
última música, aliás, como todo meu grupo de amigos. Divertíamo-nos muito
dançando o domingo inteiro.
Às
quartas-feiras à noite, participava de um grupo de formação em psicodrama
pedagógico, que foi de vital importância para meu trabalho – entender como lidar
melhor com gente, separar o que é nosso do que pertence ao outro, aprender a
ler os sinais, compreender o que é dito nos gestos, nas entrelinhas, e nas dinâmicas
grupais. Adorava! O curso durou dois anos e meio e quando terminou me inscrevi
no seguinte. Como a turma era diferente, as dinâmicas nunca eram iguais. Quem
lida com gente deveria participar de um grupo assim, passar pela experiência, que
foi das mais ricas que vivi, uma das melhores coisas que fiz para mim, meus
clientes e meu trabalho.
As aulas
de dança aconteciam na clínica, que naquela época era uma sala confortável na
Rua Soriano de Souza, onde fazíamos a aula toda de meias – era proibido pisar
de sapatos naquele chão sagrado onde os clientes se deitavam para fazer
Antiginástica. Como eram todos clientes que viraram amigos, a aula era
animadíssima, a gente ria, dançava e se divertia muito! Depois das aulas dos
sábados, íamos direto tomar um chopp bem pertinho, que entrava pela noite e a
conversa continuava animada!
Era uma
saída da rotina diária, mas a rotina semanal não mudava. Eu me lembro até de
falar na terapia que sentia certa culpa por receber dinheiro pelo meu trabalho,
que era uma das atividades mais prazerosas do dia, e de me sentir tão feliz
todos os dias! Olhando em volta, aquilo não era o normal.
Eu era
solteira, independente, não tinha filhos e morava sozinha. A vida era muito leve!
Lógico
que vivi coisas maravilhosas em outras épocas, mas essa foi muito marcante e
durou bastante, “para noooooossa alegria”!
Olhando
para trás vejo que minha vida pode ser dividida em etapas, em capítulos que
foram vividos intensamente, me trazendo sempre o sentimento de felicidade. Eu
buscava isso, busco ainda. Era muito “infeliz” quando não conseguia realizar
esse projeto. Lógico que houve períodos assim, de dor, mas a busca continuava
ali. Podia até demorar, ser difícil, mas nunca desistia de ser feliz.
Quando
Pedro era pequeno, entre os dois e dez anos, estudou na Escola Lume, no Grajaú,
onde fez amigos que se veem até hoje, assim como nós, os pais, que criamos
vínculos afetivos que alimentamos nos encontrando (menos do que o desejado),
tendo notícias uns dos outros, trocando e-mails, não nos esquecendo.
Um dia
conto da nossa amizade, desse amor que conseguimos manter apesar das “crianças”
terem crescido, se encontrarem sem nós, mas nos tornamos independentes deles e
hoje marcamos nossos encontros sem os filhos – encontro de pais!
***
Há dois
dias me sentei para escrever sobre minha conversa com a Lucy, minha guru-espiritual,
meu passaporte para entender o além, mas tive tanta coisa para deixar pronta, preparando-me
para meu retiro forçado pós-químio, que não terminei.
Ela me escreveu
e disse:
...
você está misturando duas coisas: ansiedade e fé. Tenho a impressão de que na
medida em que pede alguma coisa e a resposta não é imediata, ou se é, não vem
na intensidade que gostaria, ou esperava, você passa a achar que não teve fé
suficiente.
Pode
ser até que, consciente ou inconscientemente, você se sinta punida por
achar que não tem fé. Mais ou menos assim: "eu não melhorei” ou “a doença
reapareceu porque eu não tenho fé". Apague essa ideia, isso é ansiedade,
não é falta de fé.
Pelo
que temos conversado você é uma pessoa de fé, só não está conseguindo
percebê-la como tal, exatamente por estar misturando as coisas.
Fiquei muito
aliviada em perceber que ela tinha razão, não TENHO que crer piamente em alguma
coisa que nem sei o que é. Tenho que acreditar muito é na minha própria
percepção do que pode me fazer bem e assim procurar coisas prazerosas que me
farão viver muito ainda!
Na
verdade, acredito em alguma coisa além daqui e vou reservar um dia para contar
minha trajetória nesse mundo espiritual - minhas buscas, crenças e desilusões,
encontros e desencontros. Vou até contar de um ex-noivo que levei para um
encontro de jovens do Colégio São Bento e que acabou virando Pai-de-Santo. Mas
essa é outra história...
Oi amiga!!!
ResponderExcluirAdorei o texto contando do almoço,deve ter sido genial mesmo!!Nada como deixar a conversa rolar com amigos queridos,que se entregam com coragem a compartilhar pensamentos e sentimentos!!E adorei relembrar as fases das danças..srrssr...mesmo não estando aí recordo bem quando me contavas e eu louca para ir ate aí ter umas aulinhas tb!!!Foi uma delicia ler estes textos amiga!Estamos contigo ,daqui do sul emanando sempre energias lindas e coloridas!!!beijinhosss!!Marie
Mandando um beijo gigante! Bjs, Mariana Grizendi
ResponderExcluirOi Ângela,
ResponderExcluirEstou passando pelo blog depois de um tempo sem ler e me senti muito bem lendo sobre as suas experiências e sentimentos. Inclusive me identifiquei. Acredito que o sentido da vida e a fé são desafios que fazem parte da vida de todos nós em diferentes momentos e com diferentes intensidades e me senti aprendendo coisas preciosas com você.
Sou a prova viva dos frutos que renderam esses tempos de Lume! Afinal, o Pedro sempre estará entre os meus melhores amigos. Grande beijo!
Pedro Protasio