domingo, 19 de maio de 2013

Felicidade – o sentimento que não tem que morrer

Acabo de entrar em casa e vim no taxi com uma sensação de prazer e felicidade tão grandes, que me remeteram a uma época onde eu sentia isso todos os dias! A sensação era a mesma!
Passei o sábado todo na minha segunda aula de AutoCad. Semana passada começou o curso – anotei tudo, penei para acompanhar o professor, mas achei que chegando em casa conseguiria, com calma, fazer todos os desenhos aprendidos. Que nada! 
Terça-feira, depois de um almoço delicioso no Rio-Sul com a Lucy, que me acompanhou à consulta de rotina com o Mauro Zukin, me agarrei ao computador, mas não consegui fazer uma linha, um retângulo nem mesmo um círculo – o be-a-bá do Autocad.
Tentei dois dias seguidos e resolvi pedir um help ao meu professor. Liguei para o curso e ele topou me dar uma aula particular – e veio direto. Passamos duas horas aqui, mas aprendi. Pelo menos consegui reproduzir a primeira lição.
Eu adoro aprender! E como o assunto sai da minha rotina dos últimos 40 anos, a vida na Fisioterapia, parece que há estímulos em áreas diferentes – devo fazer novas sinapses, meu cérebro trabalha diferente e talvez isso traga a sensação maravilhosa de ver além, conhecer o desconhecido, ter que pensar, já não é nada automático.
***
Dormi muito mal essa noite. Como ontem foi dia de quimioterapia e tomo uns remédios que me deixam pilhada, como já contei, à noite não me desligo, fico horas acordada e pensando em coisas que no dia seguinte não terão a menor importância, mas que de madrugada tornam-se um vulto difícil de domar.
Sei que até segunda de manhã ficarei acesa, mas que depois apago por uns dias – antes do final da semana que vem volto a arribar.
Além dessa noite agitada, acordei com uma diarreia daquelas e fiquei até receosa de sair, mas não perderia minha aulinha de jeito algum! Resolvi arriscar. Deu certo, só teve um episódio de corrida ao banheiro, mas deu para administrar e não passar vergonha.
Pensei que não fosse aguentar o dia todo, mas o tempo voou e quando a aula acabou nem queria ir embora – fui porque todo mundo se levantou e não tenho intimidade para pedir para fechar o curso, mas adoraria ser a última a sair e apagar a luz!
No taxi, me vieram essas lembranças de sensações deliciosas. Houve uma época em que fazia atividades “extracurriculares” todos os dias. Tinha terapia num dia, duas aulas de dança em outros, um baile na Estudantina às quintas-feiras, o qual não perdia nem com temporal, tsunami ou dor de barriga. Aos domingos, frequentava dois bailes: à tarde no Clube Internacional, ao lado do aeroporto Santos Dumont, e depois de lanchar, escovar os dentes e renovar o desodorante, ia direto para o Circo Voador. Dançava com a Orquestra Tabajara da primeira à última música, aliás, como todo meu grupo de amigos. Divertíamo-nos muito dançando o domingo inteiro.
Às quartas-feiras à noite, participava de um grupo de formação em psicodrama pedagógico, que foi de vital importância para meu trabalho – entender como lidar melhor com gente, separar o que é nosso do que pertence ao outro, aprender a ler os sinais, compreender o que é dito nos gestos, nas entrelinhas, e nas dinâmicas grupais. Adorava! O curso durou dois anos e meio e quando terminou me inscrevi no seguinte. Como a turma era diferente, as dinâmicas nunca eram iguais. Quem lida com gente deveria participar de um grupo assim, passar pela experiência, que foi das mais ricas que vivi, uma das melhores coisas que fiz para mim, meus clientes e meu trabalho.
As aulas de dança aconteciam na clínica, que naquela época era uma sala confortável na Rua Soriano de Souza, onde fazíamos a aula toda de meias – era proibido pisar de sapatos naquele chão sagrado onde os clientes se deitavam para fazer Antiginástica. Como eram todos clientes que viraram amigos, a aula era animadíssima, a gente ria, dançava e se divertia muito! Depois das aulas dos sábados, íamos direto tomar um chopp bem pertinho, que entrava pela noite e a conversa continuava animada!
Era uma saída da rotina diária, mas a rotina semanal não mudava. Eu me lembro até de falar na terapia que sentia certa culpa por receber dinheiro pelo meu trabalho, que era uma das atividades mais prazerosas do dia, e de me sentir tão feliz todos os dias! Olhando em volta, aquilo não era o normal.
Eu era solteira, independente, não tinha filhos e morava sozinha. A vida era muito leve!
Lógico que vivi coisas maravilhosas em outras épocas, mas essa foi muito marcante e durou bastante, “para noooooossa alegria”!
Olhando para trás vejo que minha vida pode ser dividida em etapas, em capítulos que foram vividos intensamente, me trazendo sempre o sentimento de felicidade. Eu buscava isso, busco ainda. Era muito “infeliz” quando não conseguia realizar esse projeto. Lógico que houve períodos assim, de dor, mas a busca continuava ali. Podia até demorar, ser difícil, mas nunca desistia de ser feliz.
Quando Pedro era pequeno, entre os dois e dez anos, estudou na Escola Lume, no Grajaú, onde fez amigos que se veem até hoje, assim como nós, os pais, que criamos vínculos afetivos que alimentamos nos encontrando (menos do que o desejado), tendo notícias uns dos outros, trocando e-mails, não nos esquecendo.
Um dia conto da nossa amizade, desse amor que conseguimos manter apesar das “crianças” terem crescido, se encontrarem sem nós, mas nos tornamos independentes deles e hoje marcamos nossos encontros sem os filhos – encontro de pais! 
***
Há dois dias me sentei para escrever sobre minha conversa com a Lucy, minha guru-espiritual, meu passaporte para entender o além, mas tive tanta coisa para deixar pronta, preparando-me para meu retiro forçado pós-químio, que não terminei.
Ela me escreveu e disse:
... você está misturando duas coisas: ansiedade e fé. Tenho a impressão de que na medida em que pede alguma coisa e a resposta não é imediata, ou se é, não vem na intensidade que gostaria, ou esperava, você passa a achar que não teve fé suficiente.
Pode ser até que, consciente ou inconscientemente, você  se sinta punida por achar que não tem fé. Mais ou menos assim: "eu não melhorei” ou “a doença reapareceu porque eu não tenho fé". Apague essa ideia, isso é ansiedade, não é falta de fé.
Pelo que temos conversado você é uma pessoa de fé, só não está conseguindo percebê-la como tal, exatamente por estar misturando as coisas.

Fiquei muito aliviada em perceber que ela tinha razão, não TENHO que crer piamente em alguma coisa que nem sei o que é. Tenho que acreditar muito é na minha própria percepção do que pode me fazer bem e assim procurar coisas prazerosas que me farão viver muito ainda!
Na verdade, acredito em alguma coisa além daqui e vou reservar um dia para contar minha trajetória nesse mundo espiritual - minhas buscas, crenças e desilusões, encontros e desencontros. Vou até contar de um ex-noivo que levei para um encontro de jovens do Colégio São Bento e que acabou virando Pai-de-Santo. Mas essa é outra história...

3 comentários:

  1. Oi amiga!!!
    Adorei o texto contando do almoço,deve ter sido genial mesmo!!Nada como deixar a conversa rolar com amigos queridos,que se entregam com coragem a compartilhar pensamentos e sentimentos!!E adorei relembrar as fases das danças..srrssr...mesmo não estando aí recordo bem quando me contavas e eu louca para ir ate aí ter umas aulinhas tb!!!Foi uma delicia ler estes textos amiga!Estamos contigo ,daqui do sul emanando sempre energias lindas e coloridas!!!beijinhosss!!Marie

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  2. Mandando um beijo gigante! Bjs, Mariana Grizendi

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  3. Oi Ângela,
    Estou passando pelo blog depois de um tempo sem ler e me senti muito bem lendo sobre as suas experiências e sentimentos. Inclusive me identifiquei. Acredito que o sentido da vida e a fé são desafios que fazem parte da vida de todos nós em diferentes momentos e com diferentes intensidades e me senti aprendendo coisas preciosas com você.
    Sou a prova viva dos frutos que renderam esses tempos de Lume! Afinal, o Pedro sempre estará entre os meus melhores amigos. Grande beijo!
    Pedro Protasio

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